SINOPSE
Quando os ares condicionados começam misteriosamente a cair dos apartamentos na cidade de Luanda, Matacedo e Zezinha, um guarda e uma empregada doméstica, tem a missão de recuperar o aparelho do chefe. Essa missão leva-os à loja de materiais eléctricos do Kota Mino, que está a montar em segredo uma complexa máquina de recuperar memórias.
“Ar Condicionado” é uma jornada de mistério e realidade, uma crítica sobre classes sociais e como nós vivemos em conjunto nas esperanças verticais, no coração de uma cidade que é passado-presente-futuro.
NOTA DO REALIZADOR
Para que não esqueçamos que uma cidade é feita de pessoas, de memórias e não de arranha céus de espelhos, vazios, que importamos de telenovelas ou filmes americanos.
Este filme é dos prédios e todos “os transparentes” que aí trabalham e constroem as suas vidas todos os dias. Matacedo é um segurança de um prédio que se torna um reflexo do nosso estado de inércia e ao mesmo tempo de esperanças nas distopias verticais em que vivemos.
Cresci e vivi em diferentes prédios antigos do centro de Luanda. Espero agora que o filme se junte aos ar-condicionados caídos e faça parte da memória viva desta cidade.
O PRÉDIO
Foi num destes prédios localizado na Rua Rainha Ginga, numa das artérias da Mutamba, no coração da cidade de Luanda que a narrativa se desenrola. Tal como Matacedo e Zézinha, o Prédio é também um personagem - principal - com todas as suas ramificações e infiltrações.
Como muitos outros edifícios, construídos por volta dos anos 50 ainda durante o período colonial, está hoje carcomido pelo tempo, pela história, pela salvação individual. Nele, os quartos apertados, desenhados para uma pessoa apenas, foram reconfigurados para albergar famílias inteiras, a parte que sobra do terraço não ocupada por novos anexos virou um campo de futebol onde as crianças correm entre o estendal e os pátios nas traseiras tornaram-se um repositório de geradores, tanques e bombas de água, tubagens e fios elétricos emaranhados criando um cenário - real, irreal, surreal - pronto a filmar.
Correm risco de ruir, sim! mas carregam com nele uma parte de nós, uma amostra da nossa sociedade, ditam o pulsar desta cidade e obrigam-nos, ainda que a contra-gosto, a coabitar.
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